segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Morte Absoluta


Morrer.

Morrer de corpo e de alma.

Completamente.





Morrer sem deixar o triste despojo da carne,

A exangue máscara de cera,

Cercada de flores,

Que apodrecerão - felizes! - num dia,

Banhada de lágrimas

Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.





Morrer sem deixar porventura uma alma errante...

A caminho do céu?

Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?





Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,

A lembrança de uma sombra

Em nenhum coração, em nenhum pensamento,

Em nenhuma epiderme.





Morrer tão completamente

Que um dia ao lerem o teu nome num papel

Perguntem: "Quem foi?..."





Morrer mais completamente ainda,

- Sem deixar sequer esse nome.



Manuel Bandeira

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